Introvertido: como sentir-se confortável numa sociedade extrovertida?

Nossa sociedade glorifica a extroversão ao mesmo tempo em que define a introversão quase como uma falha de caráter. Assim sendo, não é difícil para um introvertido sentir-se mal sobre si mesmo. Aqui vai o meu conselho para sentir-se confortável na sua pele introvertida.

Introvertido: como sentir-se confortável numa sociedade extrovertida?

Recebi a seguinte questão de uma leitora aqui do blog:

Cara Marta,

Já li alguns textos sobre introversão que citam pessoas muito brilhantes/inteligentes e que eram introvertidas. Eu entendo que é para demonstrar exemplos de que ser introvertido não é sinal de baixa inteligência. Mas… quando eu leio sobre essas pessoas brilhantes e inteligentes… fico pensando que eu tenho tão mediana inteligência, e me sinto mal com isso, Parece que, além da introversão, não tenho nada em comum com essas pessoas incríveis.

Muito obrigada,

Márcia Bernardes(pseudônimo)

Cara Márcia,

Esteja certa, o seu mal estar é sem dúvida comum a todos os introvertidos. Ele deriva da mensagem constantemente ecoada por uma cultura que é construída sobre as bases da extroversão.

Embora não aparente, a verdade é que na prática existe uma certa marginalização em relação aos introvertidos. Marginalização essa diferente da que ocorre com outros grupos que são postos à parte. Como disse o escritor Arnie Kozak no seu livro The Everything Guide To The Introvert Edge: não há uma base claramente demarcada para a origem do estigma, como acontecem com a diferenças de gênero, afiliação religiosa ou orientação sexual. Como um introvertido você pode nem ao menos saber que você é um introvertido. Ou você reconhece que algo não se encaixa, mas você pode não estar apto a identificá-lo. Ser um introvertido em uma cultura de extrovertidos é difícil. Você pode sentir-se como falho de alguma forma. É fácil sentir que você é desprovido de algo que todos os outros parecem possuir.”

Mal vistos, desacreditados e marginalizados

Talvez você ainda não tenha se apercebido, mas na nossa sociedade os modelos de comportamento bem sucedidos são sempre de pessoas extrovertidas. O cinema, a televisão e a propaganda glorificam a extroversão e ignoram a introversão. As imagens mostradas nestes veículos de formação de opinião associam inteligência, sucesso e felicidade aos homem de ação, carismáticos e hábeis com as palavras. Ao mesmo tempo em que associam aos introvertidos a imagem de tímidos, misantropos e ansiosos em vez de pensativos e competentes.

Ser um introvertido em uma cultura extrovertida não é tarefa fácil. Desde a escola até ao trabalho todas  as praxes, abordagens e atividades são sobre socialização. No trabalho somos avaliados pela nossa capacidade de desempenho em grupo. As reuniões sociais baseiam-se em conversa amena. Tudo isso torna o mundo cada vez mais inóspito para os introvertidos.

Como reflexo de ser bombardeado por uma cultura competitiva e extrovertida, você pode achar que é um anti-social, só porque frequentemente prefere estar sozinho. Pode achar que é um chato por não falar tanto quanto os outros. Pode repreender a si mesmo quando sente que não está se integrando. Enfim, pode achar que existe algo de errado com você.

Como não se sentir desprovido de algo que todos os outros parecem possuir?

Como regra, os introvertidos estão sempre sendo comparados com os extrovertidos. E, numa sociedade onde não ser alguém esfuziantemente sociável é quase uma falha de caráter, e ser calado é sinônimo de condenação ao fracasso, não é difícil deduzir qual dos dois leva sempre a melhor.

Não ter o seu tipo de personalidade enquadrado nos moldes da sociedade vigente, não o torna menos valoroso, candidato ao fracasso ou incompetente – que é a mensagem sutil que frequentemente ouvimos. Nosso valor não está em ser um extrovertido, ou até mesmo em ser um introvertido de destaque. Ser um introvertido também não quer dizer ser mal sucedido – assim como também ser extrovertido não significa o contrário.

Muito embora o sucesso também esteja relacionado à conquistas e realizações pessoais, é importante relembrar que conquistas e realizações são algo bastante pessoal. Sendo o sucesso algo tão pessoal, é importante apenas conhecer bem a si mesmo, abraçar seus dons e habilidades e trabalhar para encontrar aquilo que seja a sua realização e que tenha real valor para você.

Navegando em águas extrovertidas

Enfim, ser um introvertido não significa que você é alguém ordinário ou desprovido de qualidades e competências. Estereótipos, preconceitos e equívocos à parte, introvertidos possuem potencial e qualidades que os habilitam a lidar com quaisquer que sejam os desafios da vida. Como um deles, você só precisa para isso aprender a navegar nas ondas desta cultura extrovertida e encontrar o espaço onde se encaixe o seu estilo de estar na vida. E, acima de tudo, relembrar sempre que você não tem que pedir desculpas, dar satisfações ou explicações por ser quem você é.

Como dizia Carl Jung: “o objetivo da vida é o de atingir a plenitude”. Plenitude para ele não significava termos todas as partes, mas sim atingirmos a harmonia através do conhecimento e da valorização das nossas próprias forças e fraquezas pessoais.


Referências: The Everything Guide To The Introvert Edge, de Arnie Kozak.


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