“Não aguento isto”
“Não suporto esse tipo de gente”
“As pessoas são muito insensíveis”
“Detesto quando alguém…”
“Odeio esse tipo de coisa”
Costumo escutar com frequência estas frases, e outras semelhantes, no meu contato com as PAS. E confesso que elas sempre me produzem um sentimento de incômodo. A verdade é que infelizmente, muitas pessoas altamente sensíveis passam pela vida tendo a crítica e o julgamento como a lente através da qual enxergam o mundo.
Cada vez que ouço estas frases muitas coisas passam pela minha cabeça: sentimentos, pensamentos, preocupações etc. Por um lado, há o reconhecimento do sentimento por trás dessas palavras: afinal eu mesma já as usei muitas vezes. Eu também sou uma PAS e reconheço que a crítica e o julgamento fizeram (e de algum modo ainda fazem) parte do meu padrão de relacionamento com o mundo. Sei que este é um padrão defensivo. Mas, quando se vive num mundo onde frequentemente recebemos a mensagem de que “há algo errado” conosco, é mais ou menos natural que desenvolvamos o raciocínio oposto: de que “errados” são os outros.
Entretanto, ao longo do meu trajeto pessoal aprendi muitas coisas que me ajudaram a me tornar menos reativa: aprendi a prestar atenção aos meus pensamentos e reparar nas emoções que eles me produzem; aprendi a pesar minhas palavras e refletir sobre aquilo que digo e sobre a maneira como digo. E, sobretudo, aprendi a importância de manter uma coerência entre aquilo que penso e a maneira como me expresso e como atuo no mundo. Com isso, diminuí e muito o teor dos meus pensamentos críticos e julgadores. É claro que estou longe (muiiito longe) de ser perfeita. Porém, agora procuro estar atenta para não cair na armadilha dos julgamentos e críticas. Posso dizer, sem medo de errar, que este é um dos meus desafios pessoais.
É exatamente o reconhecimento deste aspecto da minha personalidade, aliado ao fato de, como coach, ter sido treinada para desenvolver uma escuta atenta, que me leva a sentir uma espécie de alarma quando escuto das PAS essas generalizações, críticas e julgamentos.
Porque as PAS tendem a ser tão críticas?
Atenção! Eu não estou dizendo de maneira alguma que apenas as PAS são críticas e julgadoras. Estou apenas tentando entender de que maneira o nosso traço pode contribuir para esta atitude e que estratégias podemos desenvolver para reduzir esta predisposição e aprender a viver a vida com mais leveza.
Existem muitas explicações para este nosso criticismo e para a maneira (por vezes exagerada) com a qual nos expressamos. Mas, duas delas me parecem mais significativas. A primeira razão, acho que você já adivinhou, é o nosso famigerado perfeccionismo. Costumo dizer que o perfeccionismo é o ato de preferir o ideal em detrimento do real. A palavra mais usada pela pessoa perfeccionista é “deveria”. Quando estamos sob o domínio deste padrão de pensamento andamos por aí, convictos de que as pessoas “deveriam” agir do modo x ou y e que o mundo “deveria” ser mais (acolhedor, generoso, sensível etc.) ou menos (agressivo, competitivo…). Não importa se para mais ou para menos, o fato é que, de acordo com a visão de mundo patrocinada pelo perfeccionismo algo sempre está errado – seja em nós, seja no mundo, seja nas outras pessoas, ou em tudo isso. E esta percepção nos causa dor.
Porém, penso que há um motivo mais profundo para esta nossa atitude. Se você acompanha meu trabalho já deve ter me ouvido falar nas quatro características essenciais do traço da alta sensibilidade (o acróstico DOES). Pois bem, sabe qual delas me chama mais a atenção quando tento entender esta nossa tendência à crítica e ao julgamento? A emocionalidade e a empatia. Os julgamentos que fazemos – e a maneira como os declaramos – tem a ver com emoção. Emoções do tipo “gosto – não gosto” são a expressão, geralmente reativa ou automática, daquilo que sentimos a cada momento. E, como sentimos tudo com muita intensidade, reagimos de forma igualmente intensa àquilo que nos agrada ou nos desagrada.
Mas, e a famosa empatia PAS?
Boa pergunta. Afinal, emocionalidade e empatia andam juntas. Ambas constituindo uma parte essencial do nosso traço. E onde está a empatia quando rejeitamos alguém ou alguma coisa? Creio que a resposta está exatamente no fato de que nas PAS estas duas características são indissociáveis. Nossa empatia é acionada pela emoção. Assim, quando alguém ao nosso lado sofre, nós sofremos junto, ou seja, compartilhamos a sua emoção como se ela fosse nossa. Porém o contrário também acontece e nossa emoção pode bloquear nossa empatia, ou mesmo convertê-la em uma arma a ser usada contra a outra pessoa.
O que quero dizer é que embora a empatia seja algo inerente a todas as PAS, ela necessita ser trabalhada de maneira consciente. É muito fácil sentir empatia pelas pessoas de quem gostamos ou por aquelas com as quais nos identificamos. O grande desafio é manter a empatia com aqueles que “nos tiram do sério”. Isto requer autoconhecimento e um esforço pessoal no sentido de romper com nossos automatismos e julgamentos defensivos e inconscientes.
O que podemos fazer para ser menos críticos?
Penso que em primeiro lugar é importante refletirmos sobre o dano causado por este hábito constante de julgar e criticar. A crítica constante nos torna infelizes. Um estudo realizado pela Universidade de Wake Forest confirmou algo que, intuitivamente, já sabíamos: as pessoas que sabem relativizar os acontecimentos e estão acostumadas a se fixar no melhor dos seus semelhantes são mais felizes. E, de maneira contrária, aquelas que vivem criticando – tanto as outras pessoas como também cada aspecto do mundo que as rodeia – tendem à infelicidade e inclusive à depressão.
E isso é algo fácil de entender:
Portanto, aprender a romper com o padrão crítico e ampliar nossa capacidade empática é uma atitude essencial para ser feliz. Como uma ajuda nesta tarefa – que eu reconheço ser difícil – lhe apresento algumas sugestões que podem ser úteis neste aprendizado:
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Fuja dos fofoqueiros
Afaste-se de pessoas que tem o hábito de julgar e falar negativamente a respeito dos outros. Nós tendemos a nos tornar mais críticos ao convivermos com pessoas que têm o hábito de julgar e criticar os outros. Então, evite pessoas que gostam de falar mal dos outros.
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Entenda a diferença entre a sua opinião e a realidade
A verdade é que todos nós temos a tendência a confundir nossos julgamentos com a realidade objetiva dos fatos. E, no final, acabamos por acreditar que nossos pensamentos são os fatos. Acreditamos que “fulano é uma pessoa horrível”, que o filme “foi péssimo” etc., ao invés de compreender que nossos julgamentos são apenas uma percepção da realidade. Uma boa maneira de contrabalançar esta nossa tendência é nos perguntarmos a cada momento: quais são os fatos aqui e o que é apenas a minha interpretação?
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Preste atenção à maneira como você se expressa
Nossa maneira de falar tende a ser totalizante e generalizadora. Ao invés de dizermos “Eu não gostei deste filme!”, dizemos “Este filme é péssimo!” Percebe a diferença? A primeira frase expressa seu sentimento pessoal a respeito do filme e deixa espaço para que outras pessoas expressem uma opinião diferente da sua e ainda assim estejam corretas. Já a segunda é totalizadora e implica que você tem a verdade sobre o filme. Neste caso se alguém discorda de você, a outra pessoa estará “errada” na sua avaliação.
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Pergunte-se “para quê?”
Antes de criticar uma pessoa ou situação pergunte-se a si mesmo(a): Para que estou fazendo este julgamento? Qual é o meu objetivo? O que eu ganho com este comportamento? Se prestar atenção perceberá que, de modo geral, nós julgamos para nos sentirmos melhores ou para sermos aceitos em determinados grupos/ambientes. Quando estamos satisfeitos com a pessoa que somos não sentimos a necessidade de melhorar nossa autoestima apontando os defeitos/falhas dos outros. Tornar-se consciente da sua motivação e trabalhar a sua autoestima são duas boas maneiras de romper com o padrão julgador e desenvolver a empatia.
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Seja mais generoso ao julgar a si mesmo
Se você tem o hábito de julgar os outros, provavelmente também se julgará. E de maneira ainda mais severa. Até porque tenderá a achar que está sendo julgado(a) da mesma maneira que você julga. O seu autojulgamento vira uma forma de proteção de (possíveis) críticas alheias. Acontece que as pessoas são diferentes e você não tem como garantir que será sempre aceito(a) e bem-visto(a). Tudo o que você pode garantir é que estará agindo com autenticidade, de maneira coerente com aquilo que sente como verdadeiro para você. Aprenda a tratar-se com carinho e compaixão. Aceite seus erros como parte do seu aprendizado e você perderá o medo do julgamento alheio.
Quando paramos de nos julgar e avaliar, não precisamos nos preocupar tanto com a aprovação alheia. Trabalhamos por motivação interna, não por motivação externa. Quando algo dá errado, como acontece frequentemente, não pensamos que somos anormais pelo fato de não sermos perfeitos. Não imaginamos que há algo de errado conosco. Compreendemos que, assim como há sombra e luz no mundo, as imperfeições existem e fazem parte da nossa humanidade.
Espero que estas reflexões lhe ajudem a estar mais em paz consigo mesmo e com o seu ambiente neste final de ano. E espero que tanto você, como eu mesma, possamos levar este aprendizado para o novo ano que se aproxima.
Beijos e bênçãos. Um ótimo final de ano e até o próximo mês.
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Eu sou Marta Leite, mãe, esposa, Humanistic Professional Coach – IHCOS®, CEO fundadora do site Introvertidamente. Sou uma introvertida intuitiva de Carl Jung, uma INFJ da tipologia Myers Briggs Type Indicator®, ou MBTI®. Sou certificada no Indicador de Preferências Psicológicas Instrumento MBTI® Step I™ e MBTI® Step II Myers Briggs Type Indicator®. O objetivo do meu trabalho é transformar a vida das pessoas através do autoconhecimento. Ajudando as pessoas – as de tipo de preferência de personalidade introvertida principalmente – a desenvolverem os seus potenciais e a se sentirem confiantes.