Alta sensibilidade, introversão e timidez: é tudo a mesma coisa?
Timidez, introversão e alta sensibilidade são características que podem ter alguns elementos em comum, e mesmo se sobrepor e interagir entre si, mas que, na verdade, são profundamente distintas.
Este artigo aparece originalmente Ame Sua Sensibilidade
Muitas pessoas se autodefinem como “tímidas”, quando na verdade são altamente sensíveis ou introvertidas e, portanto, se sentem mais seguras e confortáveis em situações de menor interação social. Timidez, introversão e alta sensibilidade são características que podem ter alguns elementos em comum, e mesmo se sobrepor e interagir entre si, mas que, na verdade, são profundamente distintas.
Uma pessoa pode ser altamente sensível e não ser tímida e nem introvertida. Por sua vez uma pessoa tímida pode não ser altamente sensível, assim como alguém pode ser introvertido e não ser altamente sensível e nem tímido. Mas, também é verdade que estes diferentes aspectos da personalidade podem se retroalimentar e estarem presentes, simultaneamente, numa mesma pessoa. A timidez é um medo, uma forma de ansiedade, que pode ser mais intensa se também tivermos o traço de personalidade da alta sensibilidade ou da introversão – ou, ainda, ambos traços juntos.
Definindo os termos: alta sensibilidade e timidez
Ao tratar do tema da timidez no seu livro “Use a sensibilidade a seu favor”, a dra. Elaine Aron explica que: “como as PAS preferem olhar antes de entrar em situações novas, elas muitas vezes são chamadas de ‘tímidas”. Porém, enquanto a alta sensibilidade é uma característica genética, associada ao nível de reatividade do sistema nervoso, a timidez é uma atitude aprendida.
Ninguém nasce tímido. Timidez é o medo do julgamento social e isto é algo aprendido. Está ligada a experiências passadas e expectativas em relação ao futuro, aquilo que nós chamamos de retroalimentação negativa. Funciona mais ou menos assim: Se você é tímido(a), o mais provável é que, em algum momento do passado, você tenha sentido que que atuou de maneira “errada” ou que alguém “não gostou de você”. Também é provável que nas ocasiões seguintes a recordação deste fato aumente a sua excitação, pelo receio de que a situação negativa possa se repetir. Isso cria uma espiral descendente que aumenta o seu nervosismo (leia- se hiperexcitação) nas situações sociais. É este processo de retroalimentação negativa que cria o padrão chamado de “timidez”. O rótulo de tímido é aplicado pelas outras pessoas que, vendo o seu recuo em situações sociais, o atribuem à timidez, por desconhecer seu traço básico.
Outro aspecto a considerar é que o simples fato de estarmos num ambiente novo com muita gente e demasiados estímulos – como luzes, música alta, apresentações, pressão por desempenho etc. – pode fazer com que nos sintamos bloqueados. Porém, mais uma vez, é preciso esclarecer que o nome deste fenômeno é hiperestimulação e não timidez.
E, por fim, há uma grande diferença entre timidez e introversão. E esta reside no fato de que enquanto os introvertidos se sentem energizados passando muito tempo sozinhos, as pessoas tímidas muitas vezes querem muito se conectar com os outros, porém não sabem como fazê-lo ou não conseguem tolerar a ansiedade que sentem durante as interações sociais. As duas características se confundem porque ambas estão relacionadas à socialização – mas a falta de interesse em socializar (introversão) não é a mesma coisa que ter sentimentos de medo ou de ansiedade em relação ao ato (timidez).
Definindo os termos: alta sensibilidade e introversão
Se você ler algumas descrições de introversão, pode parecer algo muito parecido com a alta sensibilidade: tanto os introvertidos quanto os altamente sensíveis refletem profundamente, apreciam conversas significativas e necessitam de muito tempo de inatividade. Assim sendo, não é de surpreender que 70% das PAS sejam introvertidas. Mas isso significa também que 30% delas são extrovertidas, certo?
Então qual é a diferença? Para responder esta pergunta precisamos primeiro esclarecer o que realmente significa introversão ou extroversão. Para isso, vamos nos basear na abordagem desenvolvida pelo psicólogo suíço Carl Gustav Jung. Para ele, introversão e extroversão são traços de personalidade que não têm relação direta com o ser ou não ser sociável e sim com o fato de estarmos mais ou menos voltado para dentro (para o eu) ou para o mundo exterior. Sendo assim podemos dizer que a energia dos introvertidos se volta prioritariamente para seu mundo interior, enquanto a energia do extrovertido está mais focalizada no mundo externo.
Os introvertidos se sentem energizados quando passam o tempo sozinhos ou com uma ou duas pessoas que conhecem bem. Eles gostam de ter tempo para refletir e pensar sobre ideias. Eles tendem a evitar situações sociais envolvendo muitas pessoas, não porque sejam tímidos, mas porque acham mais agradável participar de atividades mais tranquilas e precisam de menos estímulos para se sentirem bem. Já os extrovertidos se energizam através do contato social. Eles gostam de estar envolvidos em muitos eventos e atividades sociais, se sentem excitados quando podem energizar os outros e precisam de mais estímulos para se sentirem vivos.
Uma pessoa pode ser introvertida e não ser altamente sensível. Neste caso, ela tenderia a estar menos voltada para os demais e menos preocupada com a opinião alheia – uma vez que, para as PAS, a coisa mais brilhante no radar são as outras pessoas. Um introvertido não PAS também tenderia a sentir-se menos afetado por outros tipos de estímulos – como a pressão do tempo, cenas de filmes violentos, ruídos repetitivos etc., já que apenas o excesso de interação social constitui uma fonte de desgaste energético para eles. Ainda assim esta pessoa sentirá a necessidade de passar tempo à sós para se recarregar.
Já uma pessoa altamente sensível tanto pode introvertida quanto extrovertida, embora a maioria tenda para a introversão. E cada um destes tipos de PAS têm os seus próprios desafios para lidar: os introvertidos altamente sensíveis precisam ter cuidado para não se tornarem excessivamente retraídos e isolados. Já os extrovertidos sensíveis necessitam aprender a dosar sua necessidade de contato social, já que podem facilmente ficar sobrecarregados e esgotados pelo excesso de interação social.
Como você está vendo existem dificuldades específicas para cada tipo de PAS. Porém, é importante reforçar que, uma vez que você é uma PAS, não importa se do tipo introvertido ou extrovertido, a enorme quantidade de informação que está constantemente recebendo pode chegar a lhe hiperestimular e a lhe saturar da mesma maneira. A única diferença é que a PAS extrovertida tenderá a se saturar mais rapidamente, uma vez que a sua tendência natural é a de envolver-se com mais pessoas e mais situações estimulantes, pelo simples motivo de que isto lhe agrada. Por isso este tipo de PAS precisa estar mais atento para perceber o momento de parar para desconectar-se e se recuperar.
Concluindo, podemos afirmar o seguinte:
- Dizer que a alta sensibilidade implica em timidez é um erro. Ser tímido é um estado, não uma característica. A timidez, mesmo crônica, é aprendida e não herdada como a alta sensibilidade. Está ligada a experiências passadas e expectativas em relação ao futuro: retroalimentação negativa. Embora existam muitas PAS que também são tímidas, isso ocorre como resultado de um aprendizado proporcionado por experiências negativas vividas no passado.
- Também é um erro afirmar que todas as pessoas altamente sensíveis são introvertidas. Sabemos que, embora estas pessoas sejam a maioria entre as PAS, também existem aquelas que são extrovertidas e gostam de grandes grupos e de atividades sociais. O que ambos os tipos têm em comum é a facilidade para se sentirem hiper-estimulados devido ao sistema nervoso particularmente reativo que caracteriza todas as PAS.
Bom, agora que você já conhece as diferenças entre estas três características, lhe sugiro que procure descobrir qual o seu perfil de personalidade e tente organizar sua vida e sua rotina de acordo com suas tendências naturais. Para ajudar nesta tarefa, deixo aqui o link para a tipologia de personalidade de Myers-Briggs, baseada na teoria dos tipos psicológicos de Jung.
Princípios-chave da Tipologia da Personalidade de Myers-Briggs®
E, caso ainda não o tenha realizado, deixo também o link para o teste sobre a alta sensibilidade desenvolvido pela dra. Elaine Aron.
Descubra se você é altamente sensível
Um grande abraço e até o próximo mês.
Beijos e bênçãos.
Outros Textos da Autora
Oi, meu nome é Rosalira Oliveira e eu sou a criadora deste site e do Programa Ame Sua Sensibilidade. Meu objetivo é ajudar pessoas altamente sensíveis a compreender e integrar esta característica, reconhecendo-a como um dom, tanto para elas mesmas quanto para as pessoas com as quais convivem. Por quê? Porque conheço bem a sensação de viver se sentindo diferente das demais pessoas, tendo a nítida impressão de que existe algo errado com você. Essa foi, por muito tempo, a minha história.